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A proposta do VI Simpósio Internacional de Climatologia (SIC) é discutir as vulnerabilidades climáticas e suas consequências para o Brasil e o mundo. O cenário atual no país, com baixos níveis nos reservatórios, possibilidade de racionamento de energia e crise na economia, é propício para se levantar discussão sobre como o Brasil vem se preparando para enfrentar as vulnerabilidades climáticas, uma vez que há indicação que os fenômenos considerados extremos na atualidade tendem a se torna mais frequentes em um futuro próximo. Assim, nesse evento será dado maior enfoque as questões associadas ao clima que nesse momento estão em evidência no País, como a crise hídrica e energética, o desflorestamento da Amazônia, entre outras.

 

Historicamente, as secas observadas no Nordeste eram consideradas como a principal vulnerabilidade climática no Brasil. Este fenômeno sempre teve associado a graves consequências sociais e econômicas para essa região, como também para outras regiões do País, em consequências dos fluxos migratórios e os problemas daí advindos. Os últimos três anos (2012-2014) foram de seca na região, no entanto, com o crescimento econômico atual da região, não houve a repercussão que se observava nas décadas passadas, quando as consequências atingiam outras regiões do país.
 

Em anos recentes, início dos anos 2000, o Brasil viveu uma crise no setor hidrelétrico, associada a baixa quantidade de precipitação em quase todo o país, que trouxe sérias consequências econômicas para o País. Nestes quinze anos as discussões sobre a vulnerabilidade climática e o setor elétrico deixaram de ser tratadas, esse ano o País se encontra em risco de passar novamente por uma crise no setor de geração de energia hidrelétrica, em razão dos baixos níveis dos reservatórios em algumas regiões. Informações do Boletim Diário do Operador Nacional do Sistema (ONS) em 05/04/2015 indicam que praticamente todas as regiões do País se encontram com menos de 50% da sua capacidade máxima de armazenamento, sendo que as regiões Sudeste/Centro Oeste, que respondem por maior parte da energia gerada no país, estavam com menos de 30% (Tabela 1). A Figura 1 apresenta a situação da Energia Armazenada no Sistema nas regiões Sudeste/Centro-Oeste em 2001. Apesar do aumento da geração de energia em anos recentes, quando se compara as informações dos dois períodos, nota-se que o País deve ser colocar em alerta sobre as consequências de um novo “apagão”.

CONTEXTUALIZAÇÃO

A crise hídrica no Brasil tem consequências além do setor energético. O exemplo mais evidente tem sido a situação observada na região Sudeste do Brasil, em especial no estado de São Paulo, onde se verifica uma crise de abastecimento de água há mais de um ano. Devido à importância econômica desta região, os efeitos desta crise acabam influenciando todo o País. Segundo publicações da Agência Nacional de Águas (ANA) “O ano de 2014 se destacou por seca extrema na região Sudeste, com probabilidade de ocorrência inferiores a 1% (tempo de retorno superior a 100 anos.)”.  Apesar da chuva ligeiramente próxima do normal no primeiro trimestre do ano de 2015 na região sudeste (INMET, 2015), estas não foram suficientes para assegurar captação suficiente de água pelos reservatórios desta região. Houve recuperação do Sistema Cantareira no estado de São Paulo em relação ao ano de 2014, no entanto, este ainda se encontrava no final de março de 2015 com vazão abaixo da média (Figura 2). Enquanto a situação no sistema FURNAS é ainda mais crítico com um volume útil ligeiramente acima de 10% no final de fevereiro de 2015 (Figura 3).

Tabela 1 - Energia Armazenada no Sistema - Fonte: Operador Nacional do Sistema (ONS) em 05/04/2015.
Figura 1 - Energia Armazenada no Sistema em 2001nas regiões Sudeste e Centro-Oeste - Fonte: ONS.

Figura 1 - Energia Armazenada no Sistema em 2001nas regiões Sudeste e Centro-Oeste - Fonte: ONS.

Tabela 1 - Energia Armazenada no Sistema

Fonte: Operador Nacional do Sistema (ONS)

em 05/04/2015.

EVOLUÇÃO DA VAZÃO MÉDIA MENSAL DO SISTEMA EQUIVALENTE - Figura 2 - Vazão média no sistema Cantareira

EVOLUÇÃO DA VAZÃO MÉDIA MENSAL DO SISTEMA EQUIVALENTE

Figura 2 - Vazão média no sistema Cantareira.Fonte: Boletim de Monitoramento dos Reservatórios do Sistema da Cantareira – Abril 2015/ANA.

Mesmo com a redução da taxa de deflorestação da Amazônia em 2014, com -18% (-83%) em relação a 2013 (2004) (INPE, 2014), essa ainda é uma questão ambiental preocupante, dada a importância desta floresta e a extensão da área já completamente devastada, aproximadamente 20% da área denominada Amazônia Legal (INPE, 2014). Por outro lado, com os recentes cortes no orçamento dos programas que visam prevenir o desflorestamento da Amazônia já se espera que essas taxas aumentem (http://amazonia.org.br). Sabe-se que a grande quantidade de evapotranspiração sobre a Floresta é responsável pelo transporte de calor latente para altos níveis da atmosfera e a intensa convecção aí está associada ao sistema de alta pressão em altos níveis denominada de Alta da Bolívia. Por outro lado, esse sistema está associado aos padrões de ondas atmosféricas planetárias e por essa via a Amazônia pode influenciar o clima de todo planeta. Assim, ao alterar as características desta floresta é possível tanto alterar o clima regional, como de regiões remotas.

 

Ainda, serão consideradas discussões que envolvem o clima global, como o uso de recursos energéticos no novo cenário econômico mundial, com exploração do gás de xisto, decaimento do preço de petróleo, uma possível desaceleração da economia e a perspectiva de um novo acordo para limitar as emissões dos gases do efeito estufa na COP 21 (Conference of the Parties) em Paris ainda em 2015. Além disto, está se propondo a discussão sobre o último relatório do IPCC levando em conta as possíveis constatações e também as incertezas que são inerentes as projeções climáticas.

 

Assim, no contexto descrito acima, a Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) realizará o VI Simpósio Internacional de Climatologia (SIC) entre 13 a 16 de outubro de 2015 em Natal/RN com o tema “Vulnerabilidades Climáticas: O Brasil no século XXI”. Sendo assim, os painéis de abertura e fechamento do evento tratarão de questões relacionadas diretamente às questões que afetam a sociedade brasileira: “O clima e a questão hídrica e energética no Brasil” e “Tecnologias, Gestão e Vulnerabilidades Climáticas no Brasil”, respectivamente. Ainda no primeiro se tratará dos “Recursos Energéticos e discussões climáticas globais”. No segundo dia do evento se tratará da variabilidade climática e eventos extremos na América do Sul e questões globais associadas ao clima, cujos temas dos painéis são: “Variações e extremos climáticos sobre a América do Sul: aspectos continentais e regionais” e “O Novo Relatório do IPCC (AR5): constatações e complexidades”.

 

VOLUME ENTRE OS ANOS DE 2009 E 2015 - Figura 3 - Volume do sistema FURNAS. Fonte: Boletim de Monitor

VOLUME ENTRE OS ANOS DE 2009 E 2015

Figura 3 - Volume do sistema FURNAS.

Fonte: Boletim de Monitoramento de Furnas - Março de 2015/ANA.

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